A MEERU faz 5 anos.
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Dos caminhos e das pessoas | 5 anos de MEERU

Publicado a
22/2/2024
Nestes dias, fica sempre bem uma declaração de celebração da efeméride. Nunca tivemos grande jeito para isso. Preferimos a proximidade de uma conversa a vários ritmos. E portanto, aqui vão as notas de uma conversa entre amigos que dura já há 5 anos.

A MEERU faz 5 anos. Já cabe neste tempo algo para recordar: cabe o chegar, cabe ir e o voltar; cabe querer fazer e o querer mudar; cabe crescer e cabe sonhar.

Para chegar, ir ou voltar

Ficaram-nos gravadas as primeiras conversas com cada pessoa, como num movimento de ansiada “chegada”. Fazer a MEERU foi, em boa medida, uma chegada, um encontro entre pessoas que, sem saber, se aguardavam umas às outras.

Temos uma mão cheia destes momentos: como aquela noite em casa do Nico em que comemos uma pasta enquanto parte da equipa se conhecia pela primeira vez; a primeira reunião com todos os associados fundadores no escritório que os amigos do IPAV nos cederam para fazer nascer esta irmã mais nova e onde ainda hoje somos muito felizes;  a primeira ‘Festa que Aproxima’, o primeiro ‘MEERU convida Amigos’, o primeiro Recrutamento de Voluntários Aproxima e as primeiras horas de suor de voluntários na obra do Reconstruir.

Também me lembro de conjugarmos o verbo ir. Tantas vezes falamos sobre a importância de nos mantermos em movimento, nesse equilíbrio difícil de vivermos simultaneamente enraizados e desinstalados, nesse viver na nossa terra, mas com os olhos postos no mundo. Olhos e pés: não nos sentíssemos nós em casa nas ruas de Atenas, de Salónica ou de Lampedusa.

Mais: lembro-me das primeiras conversas sobre a partida do nosso Nico para outra coisa que não a MEERU e do quanto isso nos deixou assim como que vazios.

É mesmo assim. Este movimento de balanço faz com que tenhamos pessoas muito próximas que estão muitas vezes distantes, mas com quem sabemos que podemos contar. Começamos isto com o Henrique, o Nico, a Ana Guedes, a Isabel, a Bé, a Bárbara e eu. Pouco depois fomo-nos transformando, ajustando vontades e disponibilidades. Chegou a Isadora e a Ana. Logo a seguir a Mariana e, depois, a Inês. Desde sempre, com a Safaa ao nosso lado. E com ela, a Rafif, o Omar e o Mahmood.

O tempo foi dando as suas voltas. Hoje, a MEERU de todos os dias é feita pela Alexandra, pela Rita, pela Bea, pela Ana, pela Mariana, pela Isabel, pelo Henrique, pela Safaa, pela Bé e por mim. O Nico, a Ana Guedes e a Bárbara estão sempre por perto.

Sempre imaginei uma placa por cima da porta do nosso escritório — uma daquelas frases-feitas, mas bonita: este é um lugar onde podemos sempre voltar.

Viver assim é menos tranquilo e mais desafiante, mas é disto que somos feitos: da liberdade e do risco de chegar, de ir, de voltar.

Do querer fazer e do querer mudar

Gostamos muito de pensar, de estudar, de desenhar e planear caminhos. Mas não são as ideias que nos sustentam. Somos, mais do que imaginamos, feitos do concreto, do que tornamos real. Somos feitos de gestos impregnados de relação. E, talvez por isso, sejamos tão exigentes nas empreitadas a que dedicamos a nossa energia: têm de assentar em relações, têm de gerar relações, de um para um, e temos de cuidar dessas relações que ajudamos a criar.

Aos cinco anos, é um bom exercício contar o que se tem feito. E pensar nos nomes e nos rostos das mais de 150 pessoas migrantes e refugiadas que escolheram pertencer à nossa comunidade. E de outras tantas que se aventuraram em Equipas de Proximidade. A tarefa fica mais difícil quando tentamos contar as histórias dos mais de 700 encontros de proximidade do MEERU APROXIMA. Hoje, sabemos que das relações que existem no seio da nossa comunidade nascem possibilidades de futuro que estão muito para além do que nós alguma vez imaginámos num qualquer planeamento estratégico e que nenhuma avaliação de impacto é capaz de medir.

Existimos para mudar: enquanto algo houver para ser mudado, aqui estaremos. Se já fossemos capazes de “viver juntos, no pleno respeito pela dignidade individual, pelo bem comum, pela diversidade”, haveria muito pouco para fazer. Mas, enquanto houver um irmão nosso ou uma irmã nossa que não encontre nas nossas comunidades um lugar onde possa pertencer, crescer e ser feliz, temos trabalho a fazer.

Do crescer

Crescer será mesmo assim: traz consigo as dores de quem amadurece e se vai tornando adulto.

Há uns meses, começámos um processo longo de avaliação e discernimento honestos: um tempo para abrir as janelas, arejar a nossa casa, limpar o pó e preparar a chegada da Primavera. Desde 2019, nunca tínhamos parado tanto tempo num olhar profundo para dentro. Tem sido um processo longo e duro, mas cheio de sinais do caminho que ainda há a fazer. Tanto que temos crescido nesta espécie de pré-adolescência de uma organização. Já fizemos e desfizemos. Levantamos dúvidas e precipitamos respostas.

Esta MEERU que criámos permite-nos dar estas voltas todas, em boa parte, porque tentamos ser bons amigos. Temos construído uma relação muito verdadeira com as pessoas que temos por perto. Não sabemos explicar com clareza como, nem porquê. Os laços vão-se tecendo e nós vamos cuidando.

E para sonhar

Olhamos o futuro com esperança. Para sonhar, estamos cá nós. E para isso temos a AMAL, o nosso primeiro negócio social. Temos novos ciclos do MEERU APROXIMA a chegar. Temos essa porta já ligeiramente entreaberta para o diálogo inter-religioso.

E temos, acima de tudo, uma comunidade que conta connosco e sonha connosco um mundo com lugar para todos. Cinco anos depois, seguimos juntos para abrir caminho.

Autores
Pedro Amaro Santos
Autor
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